domingo, 17 de novembro de 2013

Leve


Como o som de uma nota que traz uma vida à memória.

O sonho, a beleza e a esperança que um dia trouxe.

Como a pluma que cai sobre o corpo que aguarda.

O que se alastra e se apodera sem ser breve.

Como a rosa que ainda encanta o pensamento.

O querer que ainda ficou sobre o ser.

Como o vento que canta a eterna melodia.

Os antigos presságios da alma para longe.

Como o condensar do toque sutil.

O nós que um dia fez parte de mim.




Para os amantes da poesia.
Bjo da Berga.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Rotina

Cheguei. Bati a porta com força para simplesmente ser notada. Têm dias que acordo assim. Sou mulher. Não me entendi na frente do espelho, acabei saindo rápido e mal resolvida. Cadê meu brinco? Mas eu cheguei. O estalo fez com que ele olhasse por cima da pilha de papéis que cobriam a mesa. Ele sabia que iria encontrar meus olhos, famintos, buscando-os. E então cruzamos. Ou melhor, cruzaram-se. Eu sorri.
Com minha echarpe amarela, meu saltinho nada básico e minhas unhas vermelhas sentia seu incomodo em mim. Dei um sorriso de lado, gostava daquilo. Ele tão soberano e absoluto, reagindo feito um garotinho de quinze anos. Inocente.
Saiu ao telefone. Hábito que fazia nas horas de tensão. Pelo menos eu sabia quem estava no controle. Sorri novamente, agora sem ele para me observar. Sorri para a papelada que fazia da minha mesa um encontro de tudo. Sorri para minhas pernas cruzadas. Sorri para mim.
18h. A echarpe já me incomodava, foi a primeira que joguei na bolsa e esqueci por lá, sabia o que me esperava, por isso me tranquilizei com meia dúzia de planilhas e um gráfico bem colorido no excel.
21h. Além da echarpe, quase tudo me incomodava. Meus óculos, minha mesa, aquelas planilhas e o gráfico que já tinha se tornado cinza, que horror. Eu ria das bizarrices que era capaz de fazer. "É...", pensei comigo, "hora de ir pra casa". Sozinha peguei tudo que tinha me desfeito ao longo do dia, a chave do carro, a bolsa com a echarpe, as pulseiras e dei um tchau alegre para as paredes que me acompanhavam. Fui.
No caminho pensei, “casa ou não casa?”, "seco ou suave?", comprei o seco. Branco. Como ele sempre gostou. Cheguei, agora sem muito estardalhaços. Apertei a campainha uma, duas, três vezes. Já tinha lembrado daquela sua ex, do seu time ridículo e daquela vizinha, gorda, que sempre me lançava olhares quase que matadores todas as vezes que me via chegar agarrada ao seu pescoço. Se fosse por mim, já teria feito um despacho com a foto de todos eles, ali mesmo, no pé daquela escada velha do seu prédio.
Ok. Vou embora, pensei. Quando ia tirando o vinho da bolsa para deixar como um sinal de "estive aqui" a porta se abre. Tinha esquecido do seu costume de ser metódico e deixar as coisas todas arrumadas e me receber só de toalha. Aquele era, sem sombra de dúvidas, um dos momentos que eu mais te devorava. Olhos, cabelos, abdómen, barba feita, tudo meu. Meu, e eu queria logo.
Sorri daquela cena, corriqueira, se tratando de nós, e imaginei a vizinha. Coitada. Ou enfartaria ou sairia correndo pra procurar o primeiro contato da agenda telefônica dela. Quem seria? Arnaldo? Amadeu? Antônio? Ai que brega. Deixa ela.
Tirei o vinho da bolsa, "surpresa" gritei entusiasmada. Você balança a cabeça e me pede pra entrar. Casa perfumada, cheirando a você. À meia-luz, maravilhosamente  confortável. Jogo minha bolsa num canto, os sapatos você faz questão de tirar, debocho da sua paixão por saltos, mas no fundo gosto do seu vício. Começamos a nos doar ali, a 15cm do chão, sobre meus saltos, sob você. Clima quente. Peço gelo, com vinho.
Pausa. Saliva e bons goles de risada com você. Devoramos tudo que podíamos à mesa. Nossos pratos, nossos gestos, nossas bocas, nossos corpos. Agora vestia-me apenas de mim mesma, aliás, vestia-me de você. Sem medo, sem pressa, sem porquês. Estava em boas e deliciosas mãos e já não conseguia esconder o sorriso largo que se formava em meu rosto.
Ao som de um blues encorpado que tocava na sua antiga vitrola, éramos um. E as horas passavam abusadas por nós. Éramos o que queríamos ser. Personagens, desejos, delírios.

E assim a música acabou, fez-se um longo e gostoso silêncio, interrompido pelo seu despertador e os primeiros raios de sol. Nos olhávamos, saciados. Era esse o nosso momento de bom dia. E assim ficamos, até que de volta o inconveniente do seu despertador mais uma fez gritava pela casa inteira. Ok, ok, ok, Sorriso frouxo no rostos e olhares que diziam: "Até mais tarde".



Beijinhos da Berga.
Até.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

"Boring..."

E de repente o café esfria, a cerveja esquenta, a música para. O seriado acaba, a roupa não serve e o jornal não vem.
De repente a vida muda. A gente troca. Primeiro de casa, depois de emprego, de histórias e de caminhos.
A gente troca de sentimento, mas não de coração, muda o disco, mas não a cantora, troca de roupa, mas não de perfume. A gente muda. Muda e se sente sozinho.
Nosso esporte favorito já não se pratica mais. A nossa novela acabou, mas se me perguntares sobre os lençóis velhos da cama, responderei: "agora são todos de cetim", embora saiba que isso jamais importou.
Quando se muda trocam-se mocinhos e vilões, trocam-se os cenários, os diálogos e as rosas, mas a bailarina, ah doce bailarina, continua no palco com sua leveza, indiscutível, apesar de trazer em seu corpo um coração pesado, uma face abatida, e lágrimas tão carregadas que somente sua graça sobre seus passos para suportar. Desliza. Assim como em nossos dias de metáfora. Vai, de um lado para o outro.
Nunca aprendi a contar histórias, e hoje estou aqui. Sempre preferi a vida ao trabalho, e ainda continuo aqui. talvez pudesse fazer algo por mim, por você, por todos os nós que me amarram às interrogações que carrego comigo.
Daqui eu via a vida em quatro mãos, mas, sinceramente, me pergunto em que curva ela se perdeu. Ganhei, perdi, mas não esperava este empate.
Para não dizer que não falei de ti, hoje é domingo, e as suas flores continuam na janela. Jamais morreram, jamais sofreram, jamais sentiram, jamais choraram, jamais sofreram, jamais choraram, jamais sentiram, jamais amaram, você.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O "tic tac" do relógio


Olhe.
Será que ainda dá tempo
De pedir um momento
Pra voltarmos no tempo?

Ouça.
Eu só queria um minuto
Não os seus, nem os meus
Muito menos o do relógio da sala.

Toque
Cada vidro da janela pra encontrar nossa história
Cada folha do calendário significa uma memória.

Sinta.
Algo amargo que eu volto a experimentar
E quão doces são as lágrimas que me dominam o tempo todo.

segunda-feira, 18 de março de 2013

A cabeça de quem mesmo?

__ Ufa! Veio rápido hoje.
__ Pois é, nada de chegar atrasada.
Chegou, sentamos, ali no fundão. Que calor.
Um, dois, dez, quanta gente. De repente ele.
__ Olha.
Eu chamei a atenção dela.
__ Quem?
Apenas olhei ele. Subiu. Segurou-se. Tirou o livro da bolsa. Ele sempre bem vestido. Lindo. Não olhou para o lado. Sério.
O que chama tanto a atenção dele nessas páginas dessa "cabeça". Óculos escuros, marrom. Brown. Olha, não digo que todo o universo conspira a favor. Risos.
Fala, fala, fala. Daqui a pouco uma béra. Só uma, amanhã acordo cedão. Nem tanto, ok, mas é cedo. Vamos lá.
Vontando pra ele e o livro. Bem que ele poderia dar uma olhadinha pro lado né? Digo para o meu lado. Mais risos.
Cancelada a cervejinha. Ok. Outro dia a gente toma.
Será que ele terminou de ler o livro? Não, tava na metade.
Chegamos. Desce tomo mundo. O encontro acontece ali, no trevinho da porta, antes de descer. Ele vem, lindo, já sinto o seu cheiro, que perfume bom. Eu vou. Frente a frente com ele. Coração palpita rápido. Penso comigo "ele realmente é lindo". Desvio o olhar, mas aí vem a surpresa. A mão dele segura a minha. Gelei. Pensei em todas as palavras antes de levantar meu olhar pra ele, que me segurava. Eu tremia. Ele tirou os óculos, sorriu. Juro até ouvir Beethoven nessa hora. Olhos, sorrisos, boca, tudo nele é lindo e harmônico. Eu o encarei. Ele aproximou-se do meu corpo e sussurrou em meu ouvido...
__ Como se chama o seu amigo de azul?


Salve salve moçada.
Mês de março na área, mais uma crônica pra vocês. Espero que gostem dessa e também a de fevereiro. Quem não leu ainda, pode clicar aqui.
Bom, por hoje é só. Até mais.

Beijo da Berga pra vocês. ;)

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Quinta-Feira

Depois de uns 2 ou 3 goles, cá estou eu novamente. Lápis na mão, um copo de vodka e meu moleskine. Ah, claro, e algumas ideias na cabeça. As vezes esqueço delas.
Faz calor, bar cheio. Sorrisos soltos. Inclusive do Zé, meu garçom favorito, que corre pra lá e pra cá girando sua brilhante bandeja. O Zé assovia alguma coisa que não consigo identificar. Está bem, trabalha, mas não deixa de fazer o seu clássico aceno de mão para mim. "Uma pessoa do bem", como diria um velho novo amigo meu.
Mais alguns goles no copo, e eu de olho na movimentação do bar, que, diferentemente dos outros dias, parece me observar. Sensação estranha. Vodka demais? Que nada. Ainda é o primeiro copo da noite. Deve ser bobagem. Pego o moleskine e tento começar um novo conto. Depois de algumas linhas rabiscadas e algumas partidas de jogo da velha (sim, sempre joguei comigo mesma, bolando estratégias e tudo mais). Enfim começo a escrever sobre uma história que imaginei no sonho de hoje de manhã.
No sonho, que estranhamente se passava num hospital, eu encarava um belo rapaz de olhos azuis que pareciam querer me dizer "fique comigo". Ele vestia um jaleco branco, gravata coral, e tinha em seu bolso uma brilhante caneta que ofuscava minha visão em minhas tentativas inúteis de ver seu nome.
Enquanto escrevia, Zé, como de costume, já havia trocado meu copo. Minha garganta, agora seca, pedia um gole. Tomo e volto para a história.
A caneta daquele homem me atrapalhava, mas eu conseguia ver as iniciais "Dr.". Seus olhos se aproximavam cada vez mais e mais dos meus. E eu ali, parada, até que em um movimento brusco ele segura minhas mãos, frias, que agora tremiam.
Assustada com o barulho da minha história volto à realidade do bar, que agora hospeda um belo rapaz. Penso: "esses olhos". Balanço a cabeça e dou um sorriso ainda não compreendendo nada daquilo. Ele segura minhas mãos e encara meus olhos. Sinto seu corpo gelado e seu tremor. Aquilo me assusta. Com um movimento rápido ele solta minhas mãos e tira do bolso uma carta de baralho baixando seus olhos. Beija aquela carta e coloca sobre a mesa para que eu também pudesse ver. Eu o encaro ainda mais, enquanto ele se levanta e vai em direção à porta. Com medo,  olho sem entender aquela Dama de Copas à minha frente, enquanto tento, sem êxito, chamar o Zé. Estou paralisada, meus braços não me obedecem e o garçom atende as mesas fora do bar. "Que maravilha", penso em um estado de cômica tragédia. Minha respiração é rápida e ofegante. Concentro-me até que consigo me levantar da cadeira. Mais uma vez paraliso. Existe um envelope e uma caneta sobre a outra cadeira, com o meu nome, a data de meu nascimento ao lado de uma estrela e abaixo um símbolo com um dia daquela semana.



Salve salve moçada.
Férias acabaram, vamos lá, estamos juntos este ano de volta. Procurarei escrever algumas crônicas para vocês. Gosto muito e acredito que vai diversificar o blog também. Espero que gostem. =)
Um super beijo da Berga pra vocês e até mês que vem.

P.S.: Crônica dedicada ao meu amigo/irmão Clovão e ao meu querido amigo Ber.